Como Jogar Xadrez

É, voltei a jogar xadrez.
Quando eu era adolescente.... a vida anda em círculos e de repente, voltei a fazer o que fazia naquela época .... meu pai me ensinou a jogar xadrez. Eu sou boa em matemática, então não esqueci o básico. O peão anda uma casa para a frente e mata na diagonal. O Cavalo anda em L. O Bispo anda na diagonal, a Torre anda em linha reta. Eu não sei colocar as peças no tabuleiro, mas para superar isso tirei uma foto. Ok. Comprei um jogo daqueles magnéticos, feitos na China, bem básico, miniatura, cabe em qualquer cantinho, e voltei a jogar com meu pai. Na primeira partida, ganhei. Na segunda partida, ganhei. Vou jogar a terceira dia desses, mas jogar com as brancas, pois elas atacam. Eu sempre jogo com as pretas, pois as brancas atacam. E eu não gosto de atacar, gosto da defesa. Sou boa nisso - defender. Acho. Pelo menos, o tabuleiro fica bonito. Feitas essas considerações, convido vocês a viajar um pouco comigo.

Vejam a foto do meu jogo, logo acima. Não há pedras brancas e pretas, elas são prateadas e douradas. 
No antigo jogo do meu pai, todo recheado de cupins, as peças eram de madeira e eram pretas e cor de madeira. Acho que nunca vi um jogo preto e branco, de verdade.
É, eu posso ser muito literal às vezes.


Então eu começo dizendo para o meu pai: eu vou jogar com as douradas, o senhor, com as prateadas. E ele consegue distinguir que eu vou jogar com as pretas e ele, com as brancas. 


Após a primeira partida, no dia seguinte, fiz a narração toda empolgada para a minha irmã. Mais ou menos como segue.
"A Rainha prateada, aquela safada, estava lá ameaçando o meu Rei, quem ela pensa que é, gritando "Xeque"! A minha Rainha, Dou-ra-da, uma perfeita Drag Queen, subiu no salto, foi lá e esbofeteou a Rainha dele, matou a tapas, uma unhada só era suficiente. E sabe que ele teve a capacidade de mandar o cavalo dele atropelar a minha Rainha???? Ficamos os dois sem Rainha, a partida de xadrez mais maluca da face da terra. No final,ele só tinha um Rei e dois peões, eu brigando com 2 cavalos, pocotó, pocotó, os cavalos mais lindos de todo o reino e sabe o que o Rei branco (prateado) fez, o covarde? Se suicidou, se atirou no tabuleiro e adeus mundo cruel! Ah, que decepção! Meu Cavaleiro louco para enfiar a espada no Rei inimigo e ele se suicida!"


Meu pai disse que só tinha jogado uma partida de xadrez e não essa loucurada toda. Não tinha visto drag queen nenhuma.


Após a segunda partida, a narração foi algo como, "a Rainha prateada (branca) ficou no meio do tabuleiro, aquela vadia, dançando carnaval com os peões, e gritando, 'pode vir!', se achando muito boa e ameaçando meu exército. Meu Bispo foi lá, com o rosário na mão, e a excomungou. A pecadora. Saiu do tabuleiro de cabeça baixa, arrependida dos pecados. Não teve nem graça."


Se eu parasse de imaginar o tabuleiro como peças vivas, talvez eu jogasse melhor. Mas é irresistível. Ainda mais com um tabuleiro dourado e prateado. Estou até pensando em pintá-lo de rosa e azul. Ou melhorar as pecinhas, pois às vezes não sei diferenciar um bispo de um peão. E fico pensando por que o Bispo está sempre com cara de quem está rindo, ou tentando engolir uma moeda, quem sabe. 


O que me intriga de verdade é: por que a Rainha pode ir a qualquer lugar, lutar com todos e contra todos, enquanto o Rei é a peça mais indefesa de todas, só pode dar um passinho de cada vez e deve ser protegido por todo o reino. Gente, não é fácil defender o Rei. Eu nem brigo, nem argumento, é um jogo super feminista. Acho. O Rei fica encastelado, como meu pai me explicou 100 vezes, enquanto a Rainha vai à luta. Eu já chamei o Rei de inútil para baixo, mas regra é regra. Até as torres se movimentam, o cúmulo do surrealismo, mas o Rei é a peça menos poderosa. Bom, é mais poderoso do que um peão. O Rei, pelo menos, pode andar para trás. 


E vocês, jogam xadrez?