Agora à noite distribui os bombons, sobrou 1. Fiquei meio tonta... "Eu comprei um para cada um, quantos somos?".
É claro que eu errei, pois éramos 6, como no livro.
Ainda acho que somos 6, não vou me acostumar nunca à perda do meu pai.
Faz um ano e cada dia fica menos fácil.
Toda vez que quero falar algo, dar um exemplo para os meninos, falo nele. Cada vez que um dos meninos faz alguma coisa, ele está lá. Outro dia o pequeno escolheu um biscoito no mercado: "essa era a bolacha que o teu avô gostava".
Eu não seria nada sem a minha família, mas ao perder meu pai, perdi um grande companheiro. Ainda lembro nos primeiros dias, estava deitada e descobri o significado de alguma palavra, alguma curiosidade, levantei para falar com ele... daí saí chorando, pois não tinha com quem falar. Era o tipo de nerdice (não lembro o que era) que eu só conversava com ele.
Esta semana, ao pegar o boletim do mais velho, pensei que o vovô gostaria de ter visto as notas altas do neto que ele acalentou no colo, que ele ajudou a desfraldar, para quem ele contou histórias e cantou. Ele ficaria orgulhoso.
O neto que pediu para o Papai Noel que mandasse o vovô de volta para casa.
Deve ser por isso que ele está começando a duvidar do Papai Noel.
Esse é o texto que eu, que escrevo sobre tudo, não consigo escrever.
Sinto muito, não consigo.